voyeur

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

manhecendo


Nem réstia de luz
pros olhos acostumados à muda escuridão da madrugada.
Silêncio roto:
longínquo som de ônibus nos longes da rua...
É nada disso a manhã.
Súbito trinado rasga o escuro dos meus ouvidos,
diviso um claro no assobio do sabiá!
- A manhã principia nascer é no bico do passarinho.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

aguada


nada de n

ovo no vaz

io dos sons

sutis dos si

bilantes ess

es e as oblí

c´oas chuvas

em ventos u

ivos gemidos

úmido pau

listanar go

te

jan

te

domingo, 28 de agosto de 2011

Primavera


Amores de lírios,
delírios de flores,
florescem rubores,
aquecem sabores...
de rumores lírios,
de flores,
deflores!
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sexta-feira, 29 de julho de 2011

Ampulhetas



15''

no barulhento silêncio das horas vazias

surpreendo o Tempo desprevenido,

a descansar da eterna idade.

1'

tenho pensado no tempo

passando

tenho perdido tempo

pensando

fico a mercê do tempo

perdendo


tudo tão rápido, tão lento.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

O vazio da pasta de dentes





Escorregou as costas frias pela parede de ladrilhos brancos cinzentos do banheiro até o chão. Perdidos olhos no muito vazio, fixavam-se no nenhum lugar.

trabalho vazio

casa vazia

coração vazio

O tubo de pasta de dentes vazio detonara seu perdimento.

Quando ainda quase no fim, havia renovado, na semana última, os votos da insípida vida a dois nada conjugada.

Todos esses pra trás dias, o tubo magro, retorcido já, dava um tico espesso da substância única que comungava com o marido. Hóstia pastosa, espremida, ungia, como uma nesga de esperança. Instava que tudo ia bem. Resíduo das coisas, lembranças, de uma quase alegria difusa que povoava a memória gasta do apartamento.

Resistira restando a gosma branca da pasta que ele retirava com força, um pouco antes dela, que fingia dormir pra não se despedir, na cama, espaço um dia de rito, agora de sacrifício.

Hoje, tubo findo, procurara em vão um tubo outro de pasta de dentes nos mofados armários e via, afinal, que as sobras eram nada.

O conforto do cômodo incomodava seu corpo com o peso amassado do tubo.

Pegou a bolsa, as chaves do carro e ia saindo, depressa, portas abertas, lembrou-se de deixar-lhe um bilhete:

“Desculpe, a pasta de dentes ficou vazia.”

terça-feira, 19 de julho de 2011

despertar da inconsciência


"A consciência da inconsciência da vida
é o mais antigo imposto à inteligência"
(F. Pessoa, Livro do Desassossego, frag. 68)





Mesmo aquele, nulo de consciência, néscio de tudo, tem o seu momento.
De repente, o cérebro, num impulso vital, pulsando por existir , expele algo: um raciocínio, uma síntese ... talvez até um pensamento.
Enfim, ele caga.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Noite no jardim

vagalumiavam luzes

pequenas

no mais noite do jardim,

pisca piscando

no breu

imitavam estrelas

meus olhos perdidos nas vistas...

rodopiante morcego

retraz a escuridão num susto!

voo tronxo: vaievem.

vai e vem

vai

e

vem

- nos seus escuros,

o morcego também vagalumeia.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

quarta-feira, 18 de maio de 2011

poema em linhas tortas



Eu tenho levado porrada
muita
sempre.
que
se
foda
quem
não
tem!
me abaixo pro soco que vem
e me levanto
prum soco
outro
de novo
outras vezes me esquivo
porque tenho levado porrada
sempre
muita
admito.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Des existo


Penso, às vezes, que não existo e que posso caminhar por entre as pessoas, porque de verdade não caminho, já que sem existir não sou.
Daí vejo que meu esforço consiste apenas em ser invisível, e que é vão, já que não existo mesmo pra todas essas pessoas que me vêem e não me conhecem... E às vezes não existo até praquelas que me conhecem. - Porque existir é concretude e quem não vê a concretude minha, não me vê jamais.
Então tento desaparecer com o outro, anulando a concretude alheia
e me deparo comigo.
Vejo-me pesadamente, numa solidez transbordante, num reflexo incontável, dividido e amalgamado, pois o outro carrega no corpo a minha concretude, que até então não existia pra mim.
Assombro: o outro não me vê e não me sabe porque também não me vejo e não me sei no outro e assim já não existimos eternamente.
Só conhecemos esse existir liquefeito, que se esvai por entre o todo de tudo.
Eu queria parar de pensar, e que tudo fosse um frio-branco-maciez-de-nuvem.
Eu queria mesmo é não existir pra mim.

domingo, 1 de maio de 2011

Esfinge


olhar leve-furtivo
desviando...
todo mistério

pedia: decifra-me.
perscrutei olhos,
corpo, boca...

o cheiro inteiro,
incitando: devora-me!

domingo, 24 de abril de 2011

O começo do fim.

Esse é um velho texto que escrevi em 2007, foi publicado primeiro na revista arscientia, mas como bem diria Guimarães Rosa, "os tempos se seguem e parafraseiam", assim, viver é também reviver, e o texto calhou aqui, perfeito.

Todo fim tem um começo.
Este começo não é sempre o começo lá do comecinho mesmo, mas um começo que se dá bem depois de começado. É o começo do fim.
O fim, por sua vez, é único, exclusivo. E se separa dos começos pelos meios, ou pelos “entremeios”. E o que seriam os entremeios?
O entremeio nada pode ser senão mais um começo do fim...
A retomada é um começo, a mudança, a reviravolta, a estratégia nova, até mesmo a apatia. Se a “história” não acabou, se não chegamos a um fim... É ainda começo: Outro começo, um novo começo, o mesmo começo de sempre...
Um re-começo, sempre...
O que importa é que finis origine dependet (o fim depende do começo): o único saber que importa.
O começo de toda história é diverso e inúmero... É mutante. O que permite à história, e ao fim, um constante refazer-se. Assim, a re-tomada é, por princípio, um re-começo.
Toda história que não tem um fim pronto, determinado, existente, tem vários começos e está em constante re-fazer-se; recomeçando sempre... Até que se chegue ao fim.
Por outro lado, toda história que possui um fim, ou tem “tal” fim por objetivo, não deveria ter outro começo senão: “O fim começa assim”.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

perdida



O dia foi perdido.
Gastei-o a pensar-me, a tentar me explicar o que em mim não entendo.
É o olhar pra dentro um descentralizar.
Porque não me reconheço em mim. E o eu que sou, fora de mim, me é mais fácil, mais próximo, porque eu o criei.
Eu, aqui dentro, sou só uma essência leve, tão fugaz que me misturo com meu perfume, mas só eu o sei.
O perfume. Esse doce amadeirado às vezes se excede...
E eu me dou náusea.
Me perco de mim.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Mandalo-me

Busco em mim o que me necessito.
umbilical é conduzir-me pra dentro, para construir-me pra fora.

in - EX...

perscruto-me-mandalo-me-refaço-me
e o cosmo me se atualiza, meu sagrado se me realiza

E todos esses emes que me abraçammmm
Mais tarde me desmancho...
Eu me renovo.




terça-feira, 15 de março de 2011

T.O.C.


- Mô?!

- Humpf

- Mô?!

- Hummmm?

- Seu coração tá de cabeça pra baixo.

- Hum!?

- Ô Mô! Môôôô...

- Hum, Hum????

- Seu coração tá de cabeça pra baixo!

Ele se levanta um pouco e toca inconsciente o peito, antes mesmo de sentir as batidas escorrega na cama... e dorme novamente.

- Mô! Seu coração...seu coração, Mô, tá de cabeça pra baixo!!!

- Tá. Já vi! Tá bom. Hã, hã!

- Ah, Otávio, assim não dá! Tô falando que o seu coração tá de cabeça pra baixo, pô! - Ela fala rispidamente, quase gritando, e ele senta na cama. Olha em volta, os olhos vermelhos-transe. não vêem nada. Desliza até o travesseiro e dorme.

- Ahhhhhhh, levanta vai, senão eu não consigo dormir. Já disse mais de mil vezes que seu coração tá de cabeça pra baixo!!!

Ele levanta irritado, olha ao redor com olhos inquisidores...

- Que porra de coração de cabeça pra baixo é essa!? Que coração, caralho?

- Aqui, ó!

Ele olha pra baixo e vê a fronha, estampada de corações, de cabeça pra baixo. Energicamente arruma o travesseiro.

- Pu-ta-queo-pa-riu. Pronto! Agora dorme. E me deixa dormir. Tá lôco, viu!

...............................................................

- Mô?

- Que é?!

- Cê tá dormindo?

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

A primeira playboy


13 anos. Entrou em casa correndo e veio logo me mostrando, ‘Olha, mãe, a minha primeira playboy’.
Ri, de puro desconcerto.
A moça loira, de belo bumbum empinado em minúscula calcinha vermelha, afrontava com o olhar, na capa da revista. Anunciava o fim do meu reinado.
Com as armas que tinha, e ainda pega de surpresa, tentei contrargumentar, ‘mas filho, você não é muito novo?’, ‘Não!’ - e a tolice, mais uma vez, saiu dos meus lábios sem querer, ‘O que você vai fazer com isso?’.
Pausa.
E o medo que tive da resposta que imaginara e que certamente não queria ouvir! E aquele segundo eterno nos nossos olhos, tantas vezes cúmplices. E o mundo parando pra que eu definitivamente percebesse que meu menino crescera...
‘Vou ler ué!’
Ri de novo, agora de conserto. Por pura piedade ele me consertara. Disse o que se diz a uma mãe tola e eu aceitei a tolice que me cabia, porque me cabia deveras. – Continuávamos cúmplices!
‘Quero só ver a cara do Vinícius quando eu mostrar pra ele o que eu tô lendo!’ – e foi pro quarto gritando ‘sou homem, sou homem’, com o pôster da loira nas mãos, nuinha.
Deliciei-me com a coincidência. Machado que me perdoe, mas é a pura verdade.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

2


Vem,

Me pega logo com suas mãos fortes,

Deixa nossos corpos se entrelaçarem...

o quanto antes.

O dia se arrasta na sua ausência.

Não percamos tempo.

Deixa que eu o aqueça com a língua...

e você, abranda como quiser

o (meu) desejo de um dia inteiro.

Logo!

Assim enganamos o tempo.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

1

Vou publicando aqui, devagarinho, uns poeminhas. Só pra esclarecer: Alceu foi um poeta grego que, dizem, foi amante de Safo.


E daí que o dia amanhece?

Deixe que os pássaros cantem, fora...

Acorda Alceu...

Cem beijos serão poucos.

Temos ainda o dia inteiro.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Tudo pode dar certo?


"a espécie humana peleja para impor ao latejante mundo um pouco de rotina ou lógica, mas algo ou alguém de tudo faz frincha para rir-se da gente." (O Espelho - G. Rosa)

Por quê os espelhos nos são tão confortáveis, na maioria das vezes? Rosa diria - claro queO Espelho - que é porque os olhos são a porta do engano.
É tão saudável nos enganarmos. Tentar ludibriar a verdade acre das coisas comuns é quase um instinto de preservação. Primeiro treinamos nossos olhos para isso, depois nossas mentes. E seguimos assim, vivendo.
... só que sempre aparece um lagarto, um macaco ou um Woody Allen.
Os espelhos se quebram, soltamos as feras e não nos reconhecemos mais.


sábado, 29 de janeiro de 2011

Supercalifragilistiquespiralidoso!

Última coisa que queria era entediá-los com postagens particulares, mas o êxtase da semana não permite passar em branco.

A ressaca de domingo provocou inquietações, resultado: Périplo.

O aniversário de São Paulo revolveu antigas e novas emoções...

A volta, sempre conturbada e dolorosa ao trabalho, implica em esperar o desconhecido. Delicioso desassossego.

Os 250 acessos ao Périplo, em tão pouco tempo, carinho inominável!

A namorada do Ugo (meu jabuti) aqui e a possibilidade de jabutizinhos.

A premiação de Através dos Bosques – toda a magia que advém de Júlio Cotázar.

Como diria Mary Poppins, SUPERCALIFRAGILISTIQUESPIRALIDOSO!

Sinto-me irremediavelmente lírica!

Todo meu humor acre e a azedura constante de meus pensamentos se dissiparam esses dias. Descuidei-me...

Deixei-me invadir por essas horinhas de descuido.

Com toda humildade aproveito, aceito aquilo que é fugaz e delicioso.

Mas não vou pedir desculpa pela pieguice de falar de minhas emoções tolas.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Perder-se

Perder-se é buscar caminhos.
Ir além. (a volta não será sem dor)
. submergir
fundo, fundo...
a visão turva-se em vermelho e negro quando me olho por dentro.
Eu tenho vontade de dançar
tenho vontade de gritar
vontade de chorar
rir

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

São Paulo, hoje...

E hoje?
A manhã foi linda, sol e céu de brigadeiro, límpido para a comemoração. Caiu a tarde e a tempestade fez o céu azul cair no oblívio.
São Paulo é ainda assim, cidade feita de contradições.
Mas que graça tem a Rapaziada sem garoa? – Ainda que a garoa não seja mais como antigamente...
O paulistano padece de um amor molhado por essa cidade alucinógena!
Em meio aos shows, esquecemo-nos das enchentes, na festa não há espaço para a fome, a alegria ofusca a miséria...momentaneamente.
Sem bondinho-lírico, repleta do trânsito caótico que anuncia o fim do feriado, vem a noite,
grávida da avidez das almas.
..............................................................
Tudo é pura possibilidade a fecundar
o som dos carrosônibusmotos,
a espera dos que atrasam,
a ansiedade do olhar,
os risos loucos perdidos no céu dessa tão iluminada cidade
                                  que esquecemos das estrelas.

São Paulo, ontem


Sinto vontade de homenagear minha cidade...

Escrevi esse texto em 2007...acho que é ele que ainda reflete meu urbano amor, então vou publicá-lo outra vez. Aos que já leram, desculpem-me, às vezes gosto de me repetir.
São Paulo! comoção de minha vida...
Os meus amores são flores feitas de original...
Arlequinal!... Traje de losangos... Cinza e ouro...
Luz e bruma... Forno e inverno morno...
Elegâncias sutis sem escândalos, sem ciúmes...
Perfumes de Paris... Arys!
Bofetadas líricas no Trianon... Algodoal!...
(Mário de Andrade)

Um casamento fortuito, que não aconteceu: Paulicéia Desvairada, de Mário de Andrade e as fotos de Militão Augusto de Azevedo. Militão revelou São Paulo sob o realismo de sua lente, e Mário desnudou-a sob o surrealismo de suas palavras. Minhas alucinações sobre os olhares em um São Paulo ainda primaveril, edificando-se todo, como disse Mário, Paulicea, minha noiva... Há matrimónios assim... Ninguém os assistirá nos jamais!
Em meio às fotos e à poesia sou invadida por uma nostalgia do que nunca vivi...Sinto imensa falta do bondinho do Largo São Bento, em que nunca andei! Paciência coração, deixa os olhos darem vida à imaginação buscando os triângulos que não se vê mais, nos telhados dos casarões da Av. Paulista ou nas pontas das torres de uma antiga outra catedral da Sé, mas que ainda são vistos na estrutura ferrífera da Estação da Luz... Só sonhos psicodélicos. Materialização da Canaan do meu Poe! Never more!
Restou-me a garoa, ainda que não diariamente. Ela evoca o perfume daquele progresso, misturado a outras inúmeras essências, que vêm das pessoas de todo o mundo, e o mundo todo é aqui, Confusão que o poeta descreve: trituração ascensional dos meus sentidos! Risco de aeroplano entre Mogi e Paris!
A culpa é dessas fotos de gente elegantemente encapotada nas ruas, observando a construção da cidade-luz do Brasil, numa época em que a luz tinha hora marcada pra acender e apagar, e todos esperavam o espetáculo. É também desse friozinho único, que só São Paulo tem, e que ficou eterno nas palavras de Mário de Andrade: meu coração sente-se muito alegre! Este friozinho arrebitado dá uma vontade de sorrir!
(A primeira publicação desse texto está na revista eletrônica arscientia, sob o link: http://www.arscientia.com.br/materia/ver_materia.php?id_materia=380)

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Peristilo



Gosto do silêncio que antecede as datas comemorativas.
As últimas horas da tarde que antecede o natal, as primeiras horas da última noite do ano: a cidade tão ocupada que emudece.
Eu fico ouvindo esse silêncio pleno de potência. Forte, denso, apertado.
Por um átimo de segundo prendo a respiração, O silênciO, quase me sufoca com sua prenhez.
Os sons voltam devagar...e eu respiro... baixinho...