
15''
no barulhento silêncio das horas vazias
surpreendo o Tempo desprevenido,
a descansar da eterna idade.
1'
tenho pensado no tempo
passando
tenho perdido tempo
pensando
fico a mercê do tempo
perdendo
tudo tão rápido, tão lento.
Périplo é viagem. A minha é infinita... Sempre começando a mesma minha incursão em mim. E começá-la!
Escorregou as costas frias pela parede de ladrilhos brancos cinzentos do banheiro até o chão. Perdidos olhos no muito vazio, fixavam-se no nenhum lugar.
trabalho vazio
casa vazia
coração vazio
O tubo de pasta de dentes vazio detonara seu perdimento.
Quando ainda quase no fim, havia renovado, na semana última, os votos da insípida vida a dois nada conjugada.
Todos esses pra trás dias, o tubo magro, retorcido já, dava um tico espesso da substância única que comungava com o marido. Hóstia pastosa, espremida, ungia, como uma nesga de esperança. Instava que tudo ia bem. Resíduo das coisas, lembranças, de uma quase alegria difusa que povoava a memória gasta do apartamento.
Resistira restando a gosma branca da pasta que ele retirava com força, um pouco antes dela, que fingia dormir pra não se despedir, na cama, espaço um dia de rito, agora de sacrifício.
Hoje, tubo findo, procurara em vão um tubo outro de pasta de dentes nos mofados armários e via, afinal, que as sobras eram nada.
O conforto do cômodo incomodava seu corpo com o peso amassado do tubo.
Pegou a bolsa, as chaves do carro e ia saindo, depressa, portas abertas, lembrou-se de deixar-lhe um bilhete:
“Desculpe, a pasta de dentes ficou vazia.”