Penso, às vezes, que não existo e que posso caminhar por entre as pessoas, porque de verdade não caminho, já que sem existir não sou.
Daí vejo que meu esforço consiste apenas em ser invisível, e que é vão, já que não existo mesmo pra todas essas pessoas que me vêem e não me conhecem... E às vezes não existo até praquelas que me conhecem. - Porque existir é concretude e quem não vê a concretude minha, não me vê jamais.
Então tento desaparecer com o outro, anulando a concretude alheia
e me deparo comigo.
Vejo-me pesadamente, numa solidez transbordante, num reflexo incontável, dividido e amalgamado, pois o outro carrega no corpo a minha concretude, que até então não existia pra mim.
Assombro: o outro não me vê e não me sabe porque também não me vejo e não me sei no outro e assim já não existimos eternamente.
Só conhecemos esse existir liquefeito, que se esvai por entre o todo de tudo.
Eu queria parar de pensar, e que tudo fosse um frio-branco-maciez-de-nuvem.
Eu queria mesmo é não existir pra mim.