voyeur

domingo, 24 de abril de 2011

O começo do fim.

Esse é um velho texto que escrevi em 2007, foi publicado primeiro na revista arscientia, mas como bem diria Guimarães Rosa, "os tempos se seguem e parafraseiam", assim, viver é também reviver, e o texto calhou aqui, perfeito.

Todo fim tem um começo.
Este começo não é sempre o começo lá do comecinho mesmo, mas um começo que se dá bem depois de começado. É o começo do fim.
O fim, por sua vez, é único, exclusivo. E se separa dos começos pelos meios, ou pelos “entremeios”. E o que seriam os entremeios?
O entremeio nada pode ser senão mais um começo do fim...
A retomada é um começo, a mudança, a reviravolta, a estratégia nova, até mesmo a apatia. Se a “história” não acabou, se não chegamos a um fim... É ainda começo: Outro começo, um novo começo, o mesmo começo de sempre...
Um re-começo, sempre...
O que importa é que finis origine dependet (o fim depende do começo): o único saber que importa.
O começo de toda história é diverso e inúmero... É mutante. O que permite à história, e ao fim, um constante refazer-se. Assim, a re-tomada é, por princípio, um re-começo.
Toda história que não tem um fim pronto, determinado, existente, tem vários começos e está em constante re-fazer-se; recomeçando sempre... Até que se chegue ao fim.
Por outro lado, toda história que possui um fim, ou tem “tal” fim por objetivo, não deveria ter outro começo senão: “O fim começa assim”.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

perdida



O dia foi perdido.
Gastei-o a pensar-me, a tentar me explicar o que em mim não entendo.
É o olhar pra dentro um descentralizar.
Porque não me reconheço em mim. E o eu que sou, fora de mim, me é mais fácil, mais próximo, porque eu o criei.
Eu, aqui dentro, sou só uma essência leve, tão fugaz que me misturo com meu perfume, mas só eu o sei.
O perfume. Esse doce amadeirado às vezes se excede...
E eu me dou náusea.
Me perco de mim.