voyeur

domingo, 30 de janeiro de 2011

Tudo pode dar certo?


"a espécie humana peleja para impor ao latejante mundo um pouco de rotina ou lógica, mas algo ou alguém de tudo faz frincha para rir-se da gente." (O Espelho - G. Rosa)

Por quê os espelhos nos são tão confortáveis, na maioria das vezes? Rosa diria - claro queO Espelho - que é porque os olhos são a porta do engano.
É tão saudável nos enganarmos. Tentar ludibriar a verdade acre das coisas comuns é quase um instinto de preservação. Primeiro treinamos nossos olhos para isso, depois nossas mentes. E seguimos assim, vivendo.
... só que sempre aparece um lagarto, um macaco ou um Woody Allen.
Os espelhos se quebram, soltamos as feras e não nos reconhecemos mais.


sábado, 29 de janeiro de 2011

Supercalifragilistiquespiralidoso!

Última coisa que queria era entediá-los com postagens particulares, mas o êxtase da semana não permite passar em branco.

A ressaca de domingo provocou inquietações, resultado: Périplo.

O aniversário de São Paulo revolveu antigas e novas emoções...

A volta, sempre conturbada e dolorosa ao trabalho, implica em esperar o desconhecido. Delicioso desassossego.

Os 250 acessos ao Périplo, em tão pouco tempo, carinho inominável!

A namorada do Ugo (meu jabuti) aqui e a possibilidade de jabutizinhos.

A premiação de Através dos Bosques – toda a magia que advém de Júlio Cotázar.

Como diria Mary Poppins, SUPERCALIFRAGILISTIQUESPIRALIDOSO!

Sinto-me irremediavelmente lírica!

Todo meu humor acre e a azedura constante de meus pensamentos se dissiparam esses dias. Descuidei-me...

Deixei-me invadir por essas horinhas de descuido.

Com toda humildade aproveito, aceito aquilo que é fugaz e delicioso.

Mas não vou pedir desculpa pela pieguice de falar de minhas emoções tolas.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Perder-se

Perder-se é buscar caminhos.
Ir além. (a volta não será sem dor)
. submergir
fundo, fundo...
a visão turva-se em vermelho e negro quando me olho por dentro.
Eu tenho vontade de dançar
tenho vontade de gritar
vontade de chorar
rir

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

São Paulo, hoje...

E hoje?
A manhã foi linda, sol e céu de brigadeiro, límpido para a comemoração. Caiu a tarde e a tempestade fez o céu azul cair no oblívio.
São Paulo é ainda assim, cidade feita de contradições.
Mas que graça tem a Rapaziada sem garoa? – Ainda que a garoa não seja mais como antigamente...
O paulistano padece de um amor molhado por essa cidade alucinógena!
Em meio aos shows, esquecemo-nos das enchentes, na festa não há espaço para a fome, a alegria ofusca a miséria...momentaneamente.
Sem bondinho-lírico, repleta do trânsito caótico que anuncia o fim do feriado, vem a noite,
grávida da avidez das almas.
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Tudo é pura possibilidade a fecundar
o som dos carrosônibusmotos,
a espera dos que atrasam,
a ansiedade do olhar,
os risos loucos perdidos no céu dessa tão iluminada cidade
                                  que esquecemos das estrelas.

São Paulo, ontem


Sinto vontade de homenagear minha cidade...

Escrevi esse texto em 2007...acho que é ele que ainda reflete meu urbano amor, então vou publicá-lo outra vez. Aos que já leram, desculpem-me, às vezes gosto de me repetir.
São Paulo! comoção de minha vida...
Os meus amores são flores feitas de original...
Arlequinal!... Traje de losangos... Cinza e ouro...
Luz e bruma... Forno e inverno morno...
Elegâncias sutis sem escândalos, sem ciúmes...
Perfumes de Paris... Arys!
Bofetadas líricas no Trianon... Algodoal!...
(Mário de Andrade)

Um casamento fortuito, que não aconteceu: Paulicéia Desvairada, de Mário de Andrade e as fotos de Militão Augusto de Azevedo. Militão revelou São Paulo sob o realismo de sua lente, e Mário desnudou-a sob o surrealismo de suas palavras. Minhas alucinações sobre os olhares em um São Paulo ainda primaveril, edificando-se todo, como disse Mário, Paulicea, minha noiva... Há matrimónios assim... Ninguém os assistirá nos jamais!
Em meio às fotos e à poesia sou invadida por uma nostalgia do que nunca vivi...Sinto imensa falta do bondinho do Largo São Bento, em que nunca andei! Paciência coração, deixa os olhos darem vida à imaginação buscando os triângulos que não se vê mais, nos telhados dos casarões da Av. Paulista ou nas pontas das torres de uma antiga outra catedral da Sé, mas que ainda são vistos na estrutura ferrífera da Estação da Luz... Só sonhos psicodélicos. Materialização da Canaan do meu Poe! Never more!
Restou-me a garoa, ainda que não diariamente. Ela evoca o perfume daquele progresso, misturado a outras inúmeras essências, que vêm das pessoas de todo o mundo, e o mundo todo é aqui, Confusão que o poeta descreve: trituração ascensional dos meus sentidos! Risco de aeroplano entre Mogi e Paris!
A culpa é dessas fotos de gente elegantemente encapotada nas ruas, observando a construção da cidade-luz do Brasil, numa época em que a luz tinha hora marcada pra acender e apagar, e todos esperavam o espetáculo. É também desse friozinho único, que só São Paulo tem, e que ficou eterno nas palavras de Mário de Andrade: meu coração sente-se muito alegre! Este friozinho arrebitado dá uma vontade de sorrir!
(A primeira publicação desse texto está na revista eletrônica arscientia, sob o link: http://www.arscientia.com.br/materia/ver_materia.php?id_materia=380)

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Peristilo



Gosto do silêncio que antecede as datas comemorativas.
As últimas horas da tarde que antecede o natal, as primeiras horas da última noite do ano: a cidade tão ocupada que emudece.
Eu fico ouvindo esse silêncio pleno de potência. Forte, denso, apertado.
Por um átimo de segundo prendo a respiração, O silênciO, quase me sufoca com sua prenhez.
Os sons voltam devagar...e eu respiro... baixinho...