voyeur

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Des existo


Penso, às vezes, que não existo e que posso caminhar por entre as pessoas, porque de verdade não caminho, já que sem existir não sou.
Daí vejo que meu esforço consiste apenas em ser invisível, e que é vão, já que não existo mesmo pra todas essas pessoas que me vêem e não me conhecem... E às vezes não existo até praquelas que me conhecem. - Porque existir é concretude e quem não vê a concretude minha, não me vê jamais.
Então tento desaparecer com o outro, anulando a concretude alheia
e me deparo comigo.
Vejo-me pesadamente, numa solidez transbordante, num reflexo incontável, dividido e amalgamado, pois o outro carrega no corpo a minha concretude, que até então não existia pra mim.
Assombro: o outro não me vê e não me sabe porque também não me vejo e não me sei no outro e assim já não existimos eternamente.
Só conhecemos esse existir liquefeito, que se esvai por entre o todo de tudo.
Eu queria parar de pensar, e que tudo fosse um frio-branco-maciez-de-nuvem.
Eu queria mesmo é não existir pra mim.

2 comentários:

  1. quando conseguir, me avisa...
    eu to querendo o mesmo...

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    1. Adorei o texto!

      Principalmente pelo fato de representar consciente ou inconscientemente a particularidade da nossa existência. A insivibilidade do indivíduo frente ao meio que o envolve, onde a cidade sua criatura, apresenta-se devorando seus próprios criadores, impelem-nos ao recrudescimento completo para nossa subjetividade, onde reinam a hiper-sensibilidade paralisante.
      Dentre as múltiplas variações e distúrbios da psiquê, desde as depressões até este sentimento de invisibilidade encontram explicação na ausência de energeia (ação sensível) diante desta realidade social.
      Se, esta época histórica parece difícil de transformar, a meu ver, a escrita e o diálogo que estabelecemos ainda que em meios virtuais, parecem nos garantir vivos, visíveis e minimamente sãos.

      André

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