voyeur

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

São Paulo, ontem


Sinto vontade de homenagear minha cidade...

Escrevi esse texto em 2007...acho que é ele que ainda reflete meu urbano amor, então vou publicá-lo outra vez. Aos que já leram, desculpem-me, às vezes gosto de me repetir.
São Paulo! comoção de minha vida...
Os meus amores são flores feitas de original...
Arlequinal!... Traje de losangos... Cinza e ouro...
Luz e bruma... Forno e inverno morno...
Elegâncias sutis sem escândalos, sem ciúmes...
Perfumes de Paris... Arys!
Bofetadas líricas no Trianon... Algodoal!...
(Mário de Andrade)

Um casamento fortuito, que não aconteceu: Paulicéia Desvairada, de Mário de Andrade e as fotos de Militão Augusto de Azevedo. Militão revelou São Paulo sob o realismo de sua lente, e Mário desnudou-a sob o surrealismo de suas palavras. Minhas alucinações sobre os olhares em um São Paulo ainda primaveril, edificando-se todo, como disse Mário, Paulicea, minha noiva... Há matrimónios assim... Ninguém os assistirá nos jamais!
Em meio às fotos e à poesia sou invadida por uma nostalgia do que nunca vivi...Sinto imensa falta do bondinho do Largo São Bento, em que nunca andei! Paciência coração, deixa os olhos darem vida à imaginação buscando os triângulos que não se vê mais, nos telhados dos casarões da Av. Paulista ou nas pontas das torres de uma antiga outra catedral da Sé, mas que ainda são vistos na estrutura ferrífera da Estação da Luz... Só sonhos psicodélicos. Materialização da Canaan do meu Poe! Never more!
Restou-me a garoa, ainda que não diariamente. Ela evoca o perfume daquele progresso, misturado a outras inúmeras essências, que vêm das pessoas de todo o mundo, e o mundo todo é aqui, Confusão que o poeta descreve: trituração ascensional dos meus sentidos! Risco de aeroplano entre Mogi e Paris!
A culpa é dessas fotos de gente elegantemente encapotada nas ruas, observando a construção da cidade-luz do Brasil, numa época em que a luz tinha hora marcada pra acender e apagar, e todos esperavam o espetáculo. É também desse friozinho único, que só São Paulo tem, e que ficou eterno nas palavras de Mário de Andrade: meu coração sente-se muito alegre! Este friozinho arrebitado dá uma vontade de sorrir!
(A primeira publicação desse texto está na revista eletrônica arscientia, sob o link: http://www.arscientia.com.br/materia/ver_materia.php?id_materia=380)

3 comentários:

  1. Este texto replete bem a relação de amor e as vezes um poco de ódio das pessoas que moram nessa cidade tão mistériosa, calorosa, intocavél e tão dificil de esquecer chamada São Paulo

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Cara, isso é lindo (...diria Caetano), digo eu também!
    Fantástico! Fico sem palavras diante das suas.
    Vou, assim como você, tentar deixar minha homenagem a nossa São Paulo.

    São Paulo
    São Paulo em preto e branco,
    hoje cinza,
    cinzas que ainda cinza
    dá o tom a nossa pálida cor.

    ...e uma menina brilha cinzenta
    na janela de cada pessoa que por ela passa,
    e se for a deixar, ela garôa.
    Alexandre Pedro.

    Professora, adorei o post. Já tinha lido, confesso, mas foi ótimo rever!!!!
    Acho genial a ideia de ter criado um novo Blog.
    Ficarei na expectativa por novas postagens...
    Parabéns!
    Bjão
    Ale

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